Ketchup na pizza do projeto

por Onevair Ferrari em 30.04.2018

Como diria o velho Leo Vinci, “a simplicidade é o último grau de sofisticação”. Por isso mesmo, o simples tende a ser perfeito, na medida em que atende plenamente o que se propõe com mais facilidade. O simples tende a ser eficiente e desperta a satisfação.

No sentido oposto, o complexo tende a ser imperfeito, já que demanda a sincronia de diversos fatores, nem sempre alcançável. Por isso, também, existe maior tolerância com o complexo, e resultados imperfeitos, mesmo criticados, acabam sendo admitidos, estabelecendo um padrão deficiente. Assim, o complexo tende a ser defeituoso em algum aspecto e tem maior chance de gerar frustração.

É terrível, então, quando se tenta tornar complexo algo que é simples. Algumas das melhores pizzas do planeta, por exemplo, são incrivelmente simples e irretocáveis. Mas há quem insista em colocar pimenta, ketchup e até mostarda...

No que se refere a metodologias de gerenciamento de projetos, é igualmente importante reconhecer o simples-eficiente e os riscos do complexo-desnecessário.

A sedução das novidades. Mudanças no ambiente em que o projeto é realizado, no contexto em que o projeto se encontra dentro da organização e na sua contribuição para a estratégia da organização que o realiza devem ser identificadas pelo gerente do projeto e pelo patrocinador do projeto. A prioridade do projeto e a consequente destinação de recursos dependem disso.

O diversionismo das ferramentas. Muitas das novas metodologias vêm apoiadas em ferramentas gráficas ou digitais encantadoras. Com isso, a decisão de utilizar uma nova metodologia pode acabar sendo fortemente influenciada pelo encanto da ferramenta mobile, user friendly e easy going. Da mesma forma que uma caixa de ferramentas pode ser uma novidade irresistível para uma criança que se diverte, mas não sabe ao certo a que se presta cada uma das chaves, às vezes percebemos que o foco está muito mais nas ferramentas que nos resultados que elas produzem na gestão dos projetos.

A superficialidade do conhecimento. A intensa disseminação do gerenciamento de projetos nos últimos anos, como uma especialidade multidisciplinar de grande valia em praticamente qualquer área de aplicação, deu margem também a uma falsa sensação de suficiência de conhecimento neste campo tão vasto. Abordagens imediatistas, excessivamente instrumentais, fazem lembrar a expectativa de transformar um aprendiz em chef de cuisine, somente porque lhe foi dado um livro de ótimas receitas e um kit de boas panelas.

Muitos neo-praticantes subestimam o valor da base conceitual, da experiência prática na integração dos vários aspectos da gestão do projeto, do contexto em que é realizado e da sua importância nas operações do cliente, do financiador, do executor e dos vários fornecedores que participam do esforço temporário chamado de projeto.

Em projetos, é importante festejar os objetivos atingidos e pizzas são sempre bem vindas nestas ocasiões, mas é preciso estar atento ao nível de conhecimento e experiência necessários a cada tipo de projeto, à escolha da metodologia e das ferramentas a serem utilizadas, para que a gestão do projeto não acabe em pizza... com ketchup

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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