Smart tem que ser você, não o phone

por Onevair Ferrari em 26.02.2018

Ao caminhar pelas ruas, é preciso desviar dos zombies, totalmente hipnotizados pela tela de seus celulares. Mais critico ainda é dirigir, com pedestres zombies atravessando à frente dos carros sem ao menos percebê-los. Aos atropelamentos se somam acidentes causados por motoristas entretidos com mensagens ou falando ao celular. Em alguns países, câmeras vêm sendo instaladas no parabrisa dos veículos para comprovar inocência em casos de atropelamentos e acidentes.

Zombies de rosto azulado também freqüentam reuniões da empresa, restaurantes, cinemas, espetáculos, salas de aula e até os momentos de convívio da família, evidenciando sua dependência digital, como o quarto macaco, que não vê nada, não ouve nada, não fala nada, alheio a tudo e totalmente embasbacado pelo smartphone.

Uma pesquisa recente aponta que 65% dos brasileiros têm acesso à internet e passam, em média, 3h45/dia na rede, principalmente via smartphones, enquanto a produtividade no trabalho despenca e os resultados no PISA são medíocres. Os smartphones estão se tornando, para muitos, a única janela para o mundo, num verdadeiro autismo digital, com boa parte da vida se limitando à virtualidade. Contraditoriamente, o que deveria fazer as pessoas mais produtivas e livres, está as tornando menos efetivas e dependentes. Basta ver os péssimos índices de produtividade do trabalhador brasileiro, os péssimos resultados na educação e os reconhecidos efeitos da abstinência digital: crises de autoestima, insegurança e depressão.

No contexto de gerenciamento de projetos, não é muito diferente, pois além de toda a carga digital comum a outros campos do conhecimento, mais e mais ferramentas são oferecidas com promessas mirabolantes de gerenciar projetos com a palma da mão e as pontas dos dedos. São muitas as ofertas de aplicativos easygoing & friendly, mas que, dependendo do discernimento do usuário, podem se tornar estupidificantes ou dumber & brainless, para responder na mesma linha de terminologia apelativa.

A exemplo dos aplicativos de geoposicionamento que, muitas vezes, conduzem o usuário dependente a caminhos letais ou ruas de mesmo nome em bairros diferentes do desejado, alguns dos aplicativos de gerenciamento de projetos podem ser igualmente letais ao projeto ou conduzi-lo por caminhos e destinos indesejados. Por isso, muito mais que recursos digitais, é fundamental ter base conceitual sólida, referências e experiência real para gerenciar projetos.

Aplicativos oferecem apenas ferramental, enquanto conhecimento e sabedoria devem ser do usuário. Algoritmos enlatados, na maioria das vezes concebidos numa realidade estrangeira bem diferente, não são capazes de considerar as variáveis do contexto local, principalmente quando se trata de gerenciar projetos.

Mas, nem tudo está perdido, pois já se começa a ter consciência de que a atenção é pré-requisito para o discernimento, a decisão e a assertividade e, neste sentido, crescem movimentos como o mindfulness, para desenvolver – ou recuperar – foco e atenção plena. Assim, um usuário devidamente qualificado, com sólida base conceitual, referências reais, capaz de decidir com seu próprio arbítrio, pode tirar muito maior proveito dos dispositivos digitais sem se deixar levar pelo dummy mode.

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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