Snakeholders

por Onevair Ferrari em 27.06.2016

Que o projeto tem stakeholders, todo mundo sabe. Mas que entre os stakeholders há sempre algumas “cobras”, nem todos percebem. Alguns dos ofídios se manifestam logo, chacoalhando guizos, dando botes ameaçadores e marcando território desde o início do projeto. Outros, porém, mais traiçoeiros, ficam entocados e só se mostram momentos antes da picada.

Daí a importância dos “snakeholders”, aqueles que desviam os botes, evitam os estrangulamentos, neutralizam os venenos, abrem caminhos seguros e ajudam a garantir que as cobras não prejudiquem o projeto.

A seguir relaciono 5 dos principais tipos de peçonhentos que costumam aparecer no ambiente de projetos:

Concorrentes. Empresas que serão impactadas pelo produto do projeto ou outros departamentos da própria empresa que perderão funções em decorrência do produto do projeto ou dos benefícios gerados por ele. São os mais óbvios, mas nem sempre são cuidados durante o projeto, muitas vezes por estarem fora do alcance do Gerente do Projeto. Seus movimentos são imprevisíveis e podem levar à inviabilidade do projeto.

Resistentes. Aqueles tirados da sua zona de conforto pela execução do projeto ou ou pelo produto do projeto. Sentindo seu habitat ameaçado, tornam-se agressivos. Alguns deles não apresentam resistência explicita; são velados. Procrastinam ações necessárias ao projeto, detratam o projeto no cafezinho, aliciam colegas nos almoços, criam restrições. Outros, nem mesmo percebem sua própria resistência ao projeto.

Enrolados. São espécies pouco venenosas, mas que podem atrapalhar muito o caminho do projeto. Geralmente fazem parte da equipe do projeto e ocupam um espaço valioso que poderia ser de alguém que produzisse muito mais. Desmotivados, não compraram o projeto ou foram colocados na equipe por falta de outro recurso mais adequado. Tem hábitos noturnos, são silenciosos, úmidos e escorregadios e, no início, passam despercebidos, mas podem matar o projeto por estrangulamento e asfixia.

Magoados. É relativamente comum projetos serem aprovados, planejados e executados sem que stakeholders importantes sejam consultados. Eles poderiam contribuir muito na viabilidade, nas formas de execução ou ainda nas características e funcionalidades do produto final do projeto. Mas por alguma razão não foram envolvidos. Esta indiferença faz com que muitos deles passem para a torcida do contra e, quando surge uma oportunidade, mordem tão forte que seu veneno pode imobilizar o projeto.

Puxadores de Tapete. Jogo de poder dentro da organização, concorrência na linha sucessória, competição por resultados, politicagem interna, são apenas alguns dos fatores que podem despertar a voracidade destas cobras criadas. Com presas afiadas, podem aparecer inclusive nos níveis altos da hierarquia da empresa ou servindo a estes. Costumam levar suas vítimas para terrenos pantanosos, onde se movimentam com maior facilidade e aplicam o bote final.

Alguns destes tipos podem trocar de pele e, não raro, passam a compor outro grupo, representando um perigo para o Gerente do Projeto ao confundirem a administração dos stakeholders.

É trabalho do Patrocinador do Projeto e do Gerente do Projeto, cada um em suas respectivas esferas de atuação, reconhecer os ofídios no ambiente do projeto, identificar sua tipologia e monitorar seus movimentos. Tanto o Patrocinador quanto o Gerente do Projeto devem ter o antídoto certo para cada um.

E como nem sempre é possível eliminar totalmente a circulação de ratos no projeto e interromper a cadeia alimentar das cobras, às vezes é conveniente adotar predadores naturais como “snakeholders”, para neutralizá-las. Gatos e porcos para o dia a dia, corujas para as jornadas noturnas, águias e gaviões, se muito fiéis. Já lobos, raposas e coiotes, só se forem de absoluta confiança. Cobras que comem cobras, melhor evitar.

E aí, identificou alguns destes animaizinhos no seu projeto?

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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